O projeto europeu Zero Waste Urban Parks está a transformar parques urbanos em espaços-modelo de sustentabilidade e economia circular. Com parceiros de quatro países e vários parques-piloto, um em Lisboa, aposta na redução de resíduos, na capacitação das comunidades e na criação de uma rede europeia de parques Zero Waste.
O projeto Zero Waste Urban Parks, financiado pelo programa Erasmus+ da União Europeia, é uma iniciativa pioneira que visa repensar a gestão dos parques urbanos através da lente da sustentabilidade e da economia circular. Sob a liderança da Província de Antuérpia (Bélgica), e com a participação da Zero Waste Lab (Portugal), da ACPP – Asamblea Cooperación por la Paz (Espanha) e da Ekopotencjal (Polónia), o projeto reúne parceiros de quatro países com um objetivo comum de aprender e explorarem formas de implementação de medidas Zero Waste (Lixo Zero) em Parques Urbanos e de criar uma Rede Europeia de Parques Urbanos Zero Waste.
A Zero Waste Lab é a entidade promotora nacional do projeto, tendo convidado o Instituto Superior de Agronomia (ISA), em Lisboa, para acolher o primeiro parque-piloto em Portugal — a Tapada da Ajuda. Esta escolha baseou-se nas características singulares do local, que combina uma dimensão significativa (cerca de 100 hectares), integração na mancha florestal de Monsanto, um centro académico e um historial de ligação à biodiversidade e educação ambiental.
O projeto aposta na transformação dos parques urbanos em verdadeiros laboratórios vivos, promovendo uma gestão integrada e corresponsável. Para que um parque seja reconhecido como Zero Waste, é necessário um envolvimento transversal de todas as equipas técnicas (ambiente, espaços verdes, higiene, segurança, infraestruturas), bem como uma comunicação clara e contínua com os utilizadores.
Na Tapada da Ajuda, esta transformação começou com ações de capacitação da equipa técnica, visitas a outros parques europeus, formações sobre sustentabilidade, nudging e gestão de resíduos. Foi também criado um focus group interno para explorar oportunidades, desafios e soluções à medida da realidade local. Um dos marcos mais emblemáticos foi a criação de uma zona de piquenique Zero Waste, onde não existem caixotes do lixo e os visitantes são convidados a utilizar embalagens reutilizáveis, evitando descartáveis.
Esta área conta com sinalética apelativa e educativa, promovendo a reciclagem e a corresponsabilização. Foram ainda instaladas zonas de compostagem comunitária, criados roteiros interpretativos sobre práticas sustentáveis onde se integraram infraestruturas já existentes, como painéis solares, ciclovias, estações de carregamento elétrico e a chamada “casa circular”.
A comunidade académica esteve envolvida desde o início, não só nas formações, mas também na cocriação do Guião de Parques Urbanos Zero Waste, um manual técnico e prático lançado recentemente e já disponível gratuitamente no website da Zero Waste Lab. Este documento apresenta soluções adaptáveis a diferentes contextos, desmistifica a transição para práticas sustentáveis e oferece um ponto de partida acessível para qualquer parque ou jardim que queira iniciar este caminho.
Além disso, a associação de estudantes do ISA foi mobilizada para várias iniciativas, incluindo recolhas de beatas, desenvolvimento de planos Zero Waste para eventos e propostas de redução de desperdício alimentar na cantina. Estão também a decorrer esforços de monitorização da zona de piquenique e de outras áreas do parque, com o objetivo de medir e otimizar os resultados obtidos.
A Tapada da Ajuda como Parque Piloto
A dimensão internacional do projeto foi reforçada com encontros presenciais entre os parceiros, como um dos realizados em Lisboa, na Tapada da Ajuda. No último encontro, foram partilhadas soluções implementadas noutros parques, como o Vrejbroekpark, na Bélgica, que passou a incluir cláusulas Zero Waste nos contratos com fornecedores, garantindo maior coerência nas entradas de materiais, ou o Parque Alamillo, em Espanha, que disponibiliza loiça reutilizável contra caução nas zonas de celebrações, reduzindo drasticamente o uso de descartáveis.
Foi também neste encontro que se lançou oficialmente a Rede Europeia de Parques Zero Waste – uma comunidade de prática que pretende agilizar a comunicação entre equipas técnicas e gestores de espaços verdes em toda a Europa. Esta rede facilita a partilha de experiências, cocriação de medidas sustentáveis e disseminação de boas práticas, sendo de acesso livre através do endereço de email: zerowasteurbanparks@googlegroups.com.
Embora o impacto do projeto vá muito além da gestão de resíduos, o seu valor reside na abordagem holística: promover práticas como compostagem in situ, eliminação de descartáveis, reforço do capital natural urbano e envolvimento comunitário. Estas ações alinham-se diretamente com os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e da Agenda 2030, promovendo cidades mais resilientes, conscientes e regenerativas.
Para uma Nova Geração de Espaços Verdes
Do lado português, a Zero Waste Lab tem já identificadas novas linhas de ação dentro da própria Tapada, em articulação com diversos núcleos, como a escola secundária do parque ou grupos de jovens. Paralelamente, a organização está empenhada em escalar o modelo para outros parques urbanos em Portugal.
A articulação com municípios e entidades públicas tem sido uma prioridade. Durante o último encontro na Tapada, foram apresentados os recursos disponíveis para apoiar este processo e mobilizar territórios que pretendam iniciar a sua própria jornada Zero Waste.
A experiência acumulada revelou que não existem receitas únicas. Cada parque tem a sua realidade, e o sucesso da transição depende de uma visão clara, da inclusão de todas as partes interessadas e da partilha transparente de progressos e obstáculos. A abordagem Zero Waste exige coragem e liderança inovadora, mas oferece inúmeros impactos positivos: desde o reconhecimento das equipas técnicas, à valorização do espaço público e à dinamização de redes locais de economia circular e solidária.
O projeto Zero Waste Urban Parks representa uma nova geração de políticas públicas verdes. Parques como a Tapada da Ajuda não são apenas espaços de lazer, mas verdadeiros motores de transformação urbana. Com base na colaboração, inovação e participação, esta iniciativa prova que cada espaço verde pode ser também um espaço de futuro.
Este esforço colaborativo não se limita a partilhar boas práticas, mas visa construir uma comunidade técnica e institucional unida em torno da visão Zero Waste. A recém-criada Rede Europeia de Parques Zero Waste representa precisamente esse compromisso coletivo com a melhoria contínua. Trata-se de uma plataforma aberta de partilha de experiências, coconstrução de ferramentas e apoio mútuo que já começou a gerar efeitos positivos. A adesão é simples e pretende acolher novos parceiros europeus dispostos a trilhar este caminho. Através de uma lógica de rede, espera-se acelerar a implementação de medidas concretas e inspirar políticas mais ambiciosas aos níveis municipal e nacional.
Em Portugal, o modelo implementado na Tapada da Ajuda está a gerar interesse por parte de municípios e entidades gestoras de espaços públicos. A Zero Waste Lab tem dialogado com autarquias e equipas técnicas, demonstrando como esta abordagem pode ser adaptada às realidades locais.
O sucesso desta experiência-piloto reforça a ideia de que os parques urbanos podem liderar transformações sustentáveis mais amplas, funcionando como verdadeiros laboratórios vivos de inovação ambiental. A expectativa é que, nos próximos anos, novos parques se juntem à rede, multiplicando o impacto positivo para as cidades e os seus habitantes.

 
                       
             
             
             
            