Simopeças: 30 anos a construir confiança e solidez

Numa história que começou há quase 30 anos numa garagem, a empresa portuguesa Simopeças foi conquistando o seu lugar e está hoje entre os principais players do mercado nacional de equipamentos para serviço ambiental, nomeadamente limpeza urbana e recolha de resíduos. Crescer devagar e de forma sustentada tem sido a estratégia desta empresa familiar, cujo sucesso passa por “uma vontade de ser sempre melhor”.

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João Simões, filho do fundador da Simopeças, é o diretor-geral da empresa desde 2007.

Às portas de Lisboa, onde Odivelas começa, há um bairro que viu, nos últimos 30 anos, o negócio da família Simões crescer. Tudo começou nos 60 metros quadrados (m2) de uma garagem. Depois de anos como responsável de armazém e logística numa das grandes empresas portuguesas da metalomecânica da época, Carlos Simões tinha a experiência e o conhecimento para lançar o seu próprio negócio. Avançou, sozinho, aproveitando os apoios que o Estado português dava, na altura, à criação de empresas. Nascia, assim, a Simopeças, focada na prestação de serviços de manutenção de viaturas especiais. Estávamos em 1994.

Quase três décadas depois, a empresa já não cabe na garagem onde tudo começou. “Em 1997, mudámos para estas instalações e, desde aí, fomos ampliando e modernizando o espaço e a oferta, tendo em conta a especificidade do negócio. Hoje, temos 10.000 m2”, conta João Simões, diretor-geral da empresa e filho do fundador.

A empresa já não é “apenas” uma empresa e passou a ser um grupo, do qual fazem parte a Simopeças, que se especializou em viaturas para limpeza urbana, a Oasis, que atua na área da energia, e a HM, que se dedica ao comércio de equipamentos para floresta e jardim. Tal como a Simopeças, também as duas empresas do grupo – cada uma liderada por cada um dos filhos de Carlos Simões – se fixaram por ali e basta atravessar a rua para dar de caras com a loja aberta ao público da HM ou, entrando no centro empresarial de Famões, encontrar as instalações que dão apoio às diferentes unidades de negócio do grupo.

Ao longo deste tempo, a atividade da Simopeças passou a incluir, além da manutenção, a venda de equipamentos para serviço ambiental, uma mudança que se consolidou quando João Simões assumiu o cargo de diretor-geral, em 2007. “Nessa altura, 90 % da nossa atividade era manutenção; entretanto, fomos complementando com a parte comercial, que representa, agora, 75 % do nosso volume de negócios”, refere o responsável. Em 2022, o grupo, que emprega 72 pessoas, registou um volume de negócios superior a 20 milhões de euros.

“Crescer, mas de forma sustentada”

Desde que Carlos Simões fundou a Simopeças, passaram-se cerca de 30 anos. Hoje, é o seu filho João quem gere a empresa, enquanto o pai desfruta do merecido descanso, ainda que não muito longe. À medida que foi crescendo, muita coisa mudou na Simopeças em termos de estrutura, já a orientação inicial manteve-se: crescer de forma sustentada.

“O objetivo é ir melhorando a nossa resposta e, com isso, vamos aumentando, lenta e gradualmente, a nossa quota de mercado. Vamos cimentando e ampliando, adaptando-nos às novas circunstâncias e solicitações que o mercado exige”, explica João Simões. 

Numa estratégia de crescimento sustentado, é importante fidelizar clientes, que, neste caso, podem ser autarquias ou quaisquer outras entidades prestadoras de serviços. Para isso, desde cedo, a empresa optou por fazer um grande investimento em stock. “É algo que nos distingue da concorrência: quando o cliente tem problemas com os seus fornecedores habituais, nós, uma vez que internalizámos esses serviços, conseguimos resolver. Com o défice de estrutura dos outros, ganhamos nós”, graceja.

O investimento em stock é uma aposta da Simopeças, permitindo-lhe dar uma resposta mais ágil aos clientes.

Na comercialização, o portefólio da Simopeças é amplo, disponibilizando equipamentos de marcas como a belga Addax (carros elétricos), a suíça Boschung e a alemã Brock (varredoras), a grega Kaoussus e as italianas Novarini (viaturas de recolha de resíduos intermédias) e Tecam. Atenta a um mercado “que é preciso compreender”, a empresa rapidamente percebeu que, além de vender, era necessário inovar e personalizar os equipamentos de forma a dar uma resposta mais adequada aos clientes.

“Não fabricamos, mas acabamos por ter uma componente de desenvolvimento que se concretiza através de parcerias”, esclarece João Simões, dando como exemplo novos equipamentos para lavagem e aspiração de ilhas ecológicas que estão a tentar seriar.

Na visita às instalações da Simopeças, que incluem uma oficina hidráulica, um parque de camiões, uma secção de varredoras, uma de serralharia e outra de carroçaria, uma unidade de pintura (onde, fruto de uma parceria, além dos habituais camiões, se pintam também motores industriais com o inconfundível tom amarelo) e uma estação de lavagem, o empenho da empresa em prestar um bom serviço aos seus clientes é visível.

Mas não só: há também uma preocupação em cumprir desígnios ambientais que ganha forma nas práticas adotadas pela empresa. “Há sempre impacto; enquanto indústria, temos de perceber onde é que conseguimos a priori reduzir a produção de resíduos e, sobre os que não conseguirmos reduzir, como é que os encaminhamos e quais são os processos. Aí é que está a grande diferença.”

Numa zona chamada “ecocentro”, são separados materiais como vidros, filtros, óleos, plásticos, entre outros, e encaminhados para reciclagem. Sempre que possível, as bases das escovas das varredoras são reutilizadas, retirando-se a palha para reciclagem. Face à elevada quantidade de cartão recebida, optou-se por investir num compactador e o mesmo foi feito para os resíduos de madeira. Há a ambição de alcançar a autossuficiência energética já no próximo ano, mas, enquanto não se chega lá, uma centena de painéis fotovoltaicos contribui já para alimentar os três carros elétricos da frota da empresa. Na estação de lavagem de camiões, uma fossa separadora de hidrocarbonetos separa a matéria gorda dos óleos das águas residuais, sendo as lamas resultantes, posteriormente, recolhidas por uma empresa certificada que as leva para tratamento.

Estes são apenas alguns exemplos das práticas implementadas na empresa, mas que refletem aquilo a que João Simões encara como “um desígnio de vida”. “É lógico que temos custos fixos muito maiores, mas deito-me todos os dias bem com a minha consciência, porque levo isto mesmo a sério – e, claro, só funciona se houver retorno financeiro, caso contrário, passados uns meses, obrigam-me a fechar a empresa”, admite.

No ecocentro, separam-se os resíduos dos vários materiais resultantes da atividade da empresa para reutilização ou reciclagem.

Depois de retirada a palha usada, que segue para reciclagem, as bases das escovas das varredoras são reutilizadas.

Fazer parte da ALU para um setor mais competitivo e digno

No início de 2020, a Simopeças aderiu à Associação Limpeza Urbana – Parceria para Cidades + Inteligentes e Sustentáveis (ALU). Na altura, a decisão levantou internamente a questão sobre se fazer parte de uma entidade do género não iria promover um mercado mais concorrencial. “Sim, mas é isso mesmo que pretendemos”, respondeu João Simões, “quanto mais concorrência tiver, mais eficaz me vou tornar”.

Competitivo “por natureza”, o responsável acredita que, sem concorrência, a evolução não acontece, pelo menos, à mesma velocidade do que quando há “um estímulo para ser melhor”. Mas, atenta, “concorrência desleal é outra conversa”. “Quando vemos que é uma concorrência fake, de secretaria, nesse caso, fico deprimido, mas, no dia seguinte, acordo com mais raiva – é mesmo essa a palavra – para fazer melhor”, confessa.

Na unidade de pintura, não são apenas os camiões que ganham novas cores, mas também motores industriais.

Para João Simões, a criação de um cluster que reúne players dos vários segmentos das áreas da limpeza urbana e da recolha de resíduos foi uma “brilhante ideia”, pois dá “muito mais força” ao setor. “O meu poder reivindicativo é totalmente diferente se eu estiver associado aos meus concorrentes, aos meus clientes, a quem faz a prestação de serviços, etc.”, argumenta.

O empresário reconhece que há, da parte da ALU, a vontade e a tentativa de resolver problemas inerentes ao setor, assim como de uniformizar o modelo de comunicação. “Tudo isso é importante, assim como [o esforço de] pôr as pessoas em contacto entre si e levar a que aqueles que são bichos do mato, como o João da Simopeças, que gosta de estar fechado na sua empresa [risos], saiam e troquem experiências. É o princípio da evolução de uma sociedade”, aponta.

Além disto, para este gestor, há ainda uma outra missão que a ALU lidera e que não pode ser descurada: a dignificação do setor no que se refere à utilização de boas práticas.

“Seria muito importante que entidades independentes como a ALU, que representa o setor de forma transversal, conseguissem fazer uma análise setorial concreta e factual de boas práticas. (...) A dignificação do setor é meio caminho andado para nós sermos todos respeitados!”

Um mercado com “trabalho para todos”

No pós-pandemia, a venda de equipamentos para recolha de resíduos e para varrição tem sido o motor base da atividade da empresa. Recentemente, uma nova tendência faz-se sentir e há uma procura crescente “que, por vezes, suplanta mesmo a oferta” por soluções elétricas.

Por esse motivo, o tema foi escolhido para estar em destaque no próximo Dia Aberto da Simopeças, um evento anual organizado pela empresa e que, em 2023, se realiza a 27 de outubro. “É o nosso evento mais conhecido e o que atrai mais pessoas. Nesse dia, convidamos parceiros e clientes e promovemos a interação entre eles, fazemos test drives, explicamos o funcionamento dos equipamentos e pomos as pessoas a conversarem”, relata.

Nos planos para o futuro, a estratégia mantém-se alinhada com a aposta feita até aqui – “Vamos continuar a cimentar, a crescer calmamente.” Até 2030, ano em que termina o último quadro de apoio comunitário, Portugal 2030, as perspetivas para o mercado são positivas, considera o gestor, que acredita que se conseguirá manter um nível em que “há negócio para todos”.

Ciente de que haverá sempre ciclos de recessão, e sem esquecer os anos difíceis entre 2011 e 2014, durante os quais “não se vendeu um único camião de recolha ou uma varredora em todo o país”, João Simões está convicto de que, pelo menos até ao final da década, “não irá haver esse tipo de tempestade no mercado”. Isto porque, além do Portugal 2030, “existe uma demanda brutal que deriva da [necessidade de] atingir as metas impostas pela Comissão Europeia”. “Vamos estar sempre a laborar e vai haver trabalho para todos”, antecipa.